Para muitos cineastas, a câmara torna-se uma arma: fixa imagens, retém as palavras e passa mensagens… de fábrica em fábrica, de universidade em universidade… A verdade está na rua e os filmes podem mudar o mundo.
Pedaços de películas virgens são “recuperados” nas filmagens e cineastas vão formar os operários das fábricas nas técnicas do cinema.
Sob a iniciativa de Chris Marker, e depois do seu filme A bientôt, j’espère (1967), os grupos Medvedkine realizam o primeiro filme, Classe de lutte (1969), magnífico retrato de uma operária. Jacques Loiseleux, um dos maiores directores de fotografia franceses (Pialat, godard, Ivens, garrel...), participou activamente naquele movimento e dá-nos a honra de estar connosco para falar da sua experiência.
«Maio 68 no cinema» é evidentemente indissociável da figura de Godard e escolhemos apresentar Un film comme les autres (1968), inédito em Portugal. enquanto Les LIP, l’imagination au pouvoir (2007) ou Reprise (1996) abordam a questão da herança de maio 68 junto com aqueles que participaram no movimento, Mourir à trente ans (1982) e Les Amants
réguliers (2005) exploram memórias pessoais de maio 68. finalmente, L’An 01 (1973) é um filme de ficção que conta, com muito humor, uma utopia feliz sobre o sonho dos filhos da abundância...
Todas as noites, um prato original inspirado nos slogans de maio 68 será proposto entre as sessões para “alimentar” o debate.
dia 5 Segunda-feIra 21:30
Loin du Vietnam
do colectivo SLON 1967 duração: 115 min.
realizada sob o slogan “o Vietname está nas nossas fábricas”, esta primeira obra do colectivo SLON via nos conflitos laborais franceses uma expressão local do combate global contra o imperialismo.
Na perspectiva dos realizadores (Joris Ivens, William Klein, Claude Lelouch, Chris Marker, Alain Resnais, Agnès Varda e Jean-Luc Godard), as greves nas fábricas francesas não diferiam muito, pelo menos nos objectivos, da guerrilha travada do outro lado do mundo, no Vietname, contra o agressor imperialista norte-americano.
O filme foi mostrado pela primeira vez na fábrica rodhiaceta, onde tinha sido rodado A bientôt, j’espère, realizado por dois membros do colectivo SLON.
dia 6 Terça-feIra 19:00
a Bientot, J'espere
de Chris Marker e Mario Marret 1967 duração: 43 min.
e
Classe de Lutte
do Grupo Medvedkine de Besançon 1969 duração: 37 min.
Em 1967, a grande greve da rhodiaceta, em Besançon, traduziu-se por uma longa ocupação da fábrica. Para lá das questões estritamente laborais e salariais, a defesa da importância da leitura, das exposições de pintura e das sessões de cinema colocava em causa todo o modo de vida dos trabalhadores, sujeitos a uma rotina fabril desumana e degradante. realizado por Chris Marker e Mario Marret, o filme foi difundido em fevereiro de 1968 na televisão francesa. O título A bientôt, j’espère («Até breve, espero») foi retirado da promessa lançada por um grevista aos patrões no plano final do filme, olhando directamente a câmara, frase interpretada a posteriori como um desafio premonitório...
A bientôt, j’espère seria, porém, objecto de críticas por parte dos operários que não se reconheceram na visão demasiado “romântica” de Chris Marker. O colectivo SLON colocou então os seus equipamentos à disposição dos operários e ensinou-lhes os rudimentos da técnica cinematográfica. nascem assim os colectivos Medvedkine, primeiro em Besançon e depois em Sochaux.
Classe de Lutte foi o primeiro filme realizado pelos operários do Grupo Medvedkine de Besançon. O documentário acompanha o primeiro acto de militância política de Suzanne, uma operária. A operária conta como conseguiu mobilizar as outras mulheres da empresa, as suas dúvidas em relação à própria greve e aos resultados da mesma, bem como todas as resistências e desconfianças que teve que enfrentar. A luta política na primeira pessoa…
dia 6 Terça-feIra 21:30
Les LiP, L,imagination au PouVoir
de Christian Rouaud 2007 duração: 118 min.
A história começa a 17 de Abril de 1973, na fábrica de relógios Lip, em Palente, na periferia de Besançon. Outrora uma empresa próspera, a Lip encontrava-se então nas mãos de novos proprietários que preparavam um plano de despedimentos catastrófico para os operários. A resistência organizada pelos trabalhadores deu origem a um movimento de luta incrível, que durou vários anos, mobilizou multidões em frança e na europa, multiplicou as acções ilegais sem ceder à tentação da violência, apoiando-se na democracia directa e numa imaginação incandescente!
«Como é que um documentário se pode transformar num filme de acção emocionante, numa epopeia digna de John ford, num filme de sábado à tarde? este filme formidável responde em três palavras: história, personagens e montagem. (…) esta epopeia permaneceria desconhecida, pelo menos no cinema, sem a presença dos humildes reformados da Lip que, neste filme, voltam a ser os protagonistas dos acontecimentos fabulosos de há trinta anos. O calor das reuniões, a organização de redes clandestinas, o sentimento de improvisar quotidianamente a utopia, são momentos que fazem deste filme uma aventura humana extraordinária.»
Jacques Mandelbaum, Le monde
Para consultar a restante programação:
http://www.ifp-lisboa.com/pdf/MAIO68_BOOKLET.pdf
Lugar: Institut Franco-Portugais
Morada: Avenida Luís Bívar, 91 / 1050-143 Lisboa
Tel: (+351) 21 311 14 00
Email: [email protected]
Site: http://www.ifp-lisboa.com
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