Chico Science, os «Nação Zumbi» e a Mangue beat
Ciências Humanas e Sociais

Chico Science, os «Nação Zumbi» e a Mangue beat





Francisco de Assis França, mais conhecido pela alcunha de Chico Science (13/3/1966- 2/2/1997) foi um cantor e compositor do Recife (Pernambuco, Brasil), e um dos principais colaboradores do movimento Manguebeat em meados da década de 90.

Mangue – Em rápidas palavras, foi um movimento que surgiu no Recife (Pernambuco, Brasil) nos primeiros anos da década de noventa. Trabalhando em cooperativa, dois grupos desconhecidos, Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, juntaram-se a alguns jornalistas, designers e desempregados, para tentar criar uma cena artística capaz de quebrar o marasmo que dominava a vida local. O termo é inspirado nos manguezais, a vegetação que dominava boa parte da área sob a qual foi construído o Recife. A ideia era gerar uma cena tão rica e diversificada quanto esse ecossistema, de modo a abranger toda a complexidade embutida potencialmente na vida de uma cidade grande.
A empreitada foi um sucesso: em poucos anos, centenas de bandas estavam actuando em bares, casas nocturnas e garagens, e a agitação havia se espalhado para o cinema, as artes plásticas e a moda. Recife, desde então, passou a ser conhecida como a “Manguetown”.


Chico Science

Líder da banda Nação Zumbi e principal expoente do movimento mangue beat de Pernambuco, teve sua carreira precocemente abortada por um acidente de carro. Chico Science participava de grupos de dança e hip hop em Pernambuco no início dos anos 80. No final da década integrou algumas bandas de música como Orla Orbe e Loustal, inspiradas na música soul, no funk e no hip hop.
A fusão com os ritmos nordestinos, principalmente o maracatu, veio em 1991, quando Science entrou em contacto com o bloco afro Lamento Negro, de Peixinhos, subúrbio de Olinda. Misturou o ritmo da percussão com o som de sua antiga banda e formou o Nação Zumbi.
A partir daí o grupo começou a apresentar-se em Recife e Olinda e iniciou o "movimento" mangue beat, com direito a manifesto ("Caranguejos com Cérebro"). Em 1993 a sua apresentação por São Paulo e Belo Horizonte chamou a atenção dos principais media. O primeiro disco, "Da Lama ao Caos", projectou a banda nacionalmente. O segundo, "Afrociberdelia", mais pop e electrónico, confirmou a tendência inovadora de Chico Science e Nação Zumbi, que viajaram e apresentaram-se então pela Europa e Estados Unidos. O Nação Zumbi lançou um CD duplo em 1998, depois da morte do líder, com músicas novas e versões ao vivo remixadas por DJs.


Monólogo ao Pé do Ouvido (Chico Science)

Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui?
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
O orgulho, a arrôgancia, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios os que detroem o poder
Bravio da humanidade
Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi
Antônio conselheiro!
Todos os panteras negras
Lampião sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza eles também cantarm um dia.



Os grandes marcos do mangue beat

Há alguns anos, em Recife (PE), Fred Rodrigues Montenegro encantava-se com Jorge Ben e a sua mistura de samba, rhythm'n'blues e baião. Ainda adolescente, foi convidado para tocar guitarra. O seu primeiro grupo, ainda no início dos anos 80, chamava-se Trapaça. Influências de bandas paulistas provocaram o surgimento de uma segunda banda, os Serviço Sujo, em cuja formação Fred tinha o cognome de "Rato". Em 1984, dos restos das bandas punks, surge o mundo livre S/A e seu cognome definitivo: Zero Quatro. Enquanto isso, na mesma cidade... Francisco de Assis França era daqueles músicos que não estudaram em conservatórios, mas que ouviam de tudo. Frequentava festas funk e os seus ídolos eram James Brown, Grandmaster Flash e Kurtis Blown. Nos anos 90, Francisco, ou melhor, Chico Science, descobriu o Lamento Negro, um grupo de samba-reggae. Impressionado com o som, chamou dois colegas do Loustal, o seu anterior grupo de hip hop e funk, para formar, o Chico Science e Lamento Negro no início de 1991. Aí, começa a história...
No início da década de 90, Zero Quatro, Chico Science e amigos em comum - entre eles futuros integrantes da Nação Zumbi - encontravam-se com regularidade. Foi este convívio que deu origem ao movimento que ficou conhecido como mangue beat. Em 1994 foram lançados os discos Da Lama ao Caos, de Chico Science & Nação Zumbi, e Samba Esquema Noise, do MLS/A .
O famoso manifesto dos "Caranguejos com cérebro" foi escrito por Zero Quatro. Segundo o jornalista e escritor Renato L, o texto era, na verdade, um release, um "book do mangue" para acompanhar os shows. Quando chegou à imprensa, passou a ser considerado um manifesto. Talvez eles não imaginassem que aquele texto, utópico, iria mudar a cara da música pernambucana e elevar o estado nordestino a um dos mais criativos e efervescentes da cultura brasileira. Passada mais de uma década, o mangue beat continua influenciando as novas gerações com seu som e sua ideologia. Ao fim de 10 anos foi organizada uma exposição com acervo de Chico Science, que morreu em Fevereiro de 1997 num acidente de carro. Passada a morte do vocalista, os Nação Zumbi pararm por um tempo e só voltaram depois com Jorge Du Peixe na voz. Saiu um livro e um cd por essa altura.


MANIFESTO CARANGUEJOS COM CÉREBRO

Mangue --- O conceito
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Estuário. Parte terminal de um rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos dos mares. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.
Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem dos alagadiços costeiros.
Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas os mangues são tidos como os símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.

Manguetown - A cidade

A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada, é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex) cidade "maurícia" passou a crescer desordenadamente as custas do aterramento indiscriminado e da destruição dos seus manguezais.
Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de "progresso", que elevou a cidade ao posto de "metrópole" do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.
Bastaram pequenas mudanças nos "ventos" da história para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem no início dos anos 60. Nos últimos trinta anos a síndrome da estagnação, aliada à permanência do mito da "metrópole", só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano.
O Recife detém hoje o maior índice de desemprego do país. Mais da metade dos seus habitantes moram em favelas e alagados. Segundo um instituto de estudos populacionais de Washington, é hoje a quarta pior cidade do mundo para se viver.

Mangue --- a cena
Emergência! Um choque rápido, ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico pra saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruir as suas veias. O modo mais rápido também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paraliza os cidadãos? Como devolver o ânimo deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco da energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.
Em meados de 1991 começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo é engendrar um "circuito energético", capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo, uma antena parabólica enfiada na lama.
Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em: quadrinhos, tv interativa, anti-psiquiatra, Bezerra da Silva, Hip Hop, midiotia, artismo, música de rua, John Coltrane, acaso, sexo não-virtual, conflitos étnicos e todos os avanços da química aplicada no terreno da alteração e expansão da consciência
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