Ciências Humanas e Sociais
Breve Panorama do Teatro Contemporâneo
Na Viragem do século XIX para o XX Realismo - Na segunda metade do século XIX, o melodrama burguês rompe com o idealismo romântico e dá preferência a histórias contemporâneas, com problemas reais de personagens comuns. A partir de 1870, por influência do naturalismo, que vê o homem como fruto das pressões biológicas e sociais, os dramaturgos mostram personagens condicionados pela hereditariedade e pelo meio. Anton Tchekhov (1860-1904) - Filho de um comerciante, parte em 1879 para Moscovo com uma bolsa de estudos para Medicina. Paralelamente, escreve muito. Os seus contos mostram o quotidiano do povo russo e estão entre as obras-primas do género. Entre as suas peças destacam-se «A gaivota» e «O jardim das cerejeiras». É um inovador do diálogo dramático e retrata o declínio da burguesia russa. Espaço cénico realista - Busca-se uma nova concepção arquitectónica para os teatros, que permita boas condições visuais e acústicas para todo o público. O director e o encenador adquirem nova dimensão. André Antoine busca uma encenação próxima da vida, do natural, usando cenários de um realismo extremo. Na Rússia, o encenador Konstantin Stanislavski cria um novo método de interpretação. Konstantin Stanislavski (1863-193 - Pseudónimo de Konstantin Sergueievitch Alekseiev. Nasceu em Moscovo. Criado no meio artístico, cursa durante um tempo a escola teatral. Passa a dirigir espectáculos e, com Nemorovitch-Dantchenko, cria o Teatro de Arte de Moscovo, pioneiro na montagem de Tchekhov. Cria um método de interpretação em que o actor deve «viver» o personagem, incorporando de forma consciente a sua psicologia. O seu livro «A preparação do actor» é divulgado em todo o mundo e o seu método é usado em escolas como o Actor’s Studio, fundado nos EUA. No Século XX Expressionismo - Surge na Alemanha, entre a I e a II Guerras Mundiais. Advoga a explosão descontrolada da subjectividade e explora estados psicológicos mórbidos, sugerindo-os através de cenários distorcidos. Peças de autores expressionistas - «A caixa de Pandora», de Frank Wedekind, «Os burgueses de Calais», de Georg Kaiser, «Os destruidores de máquinas», de Ernst Toller, «RUR», do checo Karel Capek, e «O dia do julgamento», do americano Elmer Rice, exibem também preocupação social, mostrando o homem em luta contra a mecanização desumanizadora da sociedade industrial, estudam os conflitos de geração e condenam o militarismo. Futurismo - Forte durante os anos 20. Na Itália glorifica a violência, a energia e a industrialização. Na antiga URSS propõe a destruição de todos os valores antigos e a utilização do teatro como um meio de agitação e propaganda. Autores futuristas - Os italianos, liderados por Filippo Tommaso Marinetti («O monoplano do papa»), evoluem para o fascismo, enquanto os russos, tendo à frente Vladimir Maiakovski («O percevejo» e «Mistério bufo»), usam o teatro para difundir o comunismo. Construtivismo - Movimento artístico originário da Rússia pré-revo-lucionária, iniciado pelo escultor e arquitecto Vladimir Tatlin, e cujos objectivos foram enunciados em 1920 por dois escultores, os irmãos Naum Gabo e António Pevsner, no «Manifesto Realista». Nascido de escultores e para a escultura, o Construtivismo iria afectar profundamente todas as artes plásticas, ao procurar esbater as barreiras que separam a pintura da escultura, e levando ambas para os domínios da arquitectura. Intimamente relacionado com a pintura cubista, e com a arquitectura funcionalista, o Construtivismo adoptou fervorosamente os materiais que a ciência e a tecnologia iam colocando à disposição dos artistas. Teatro estilizado - Uma corrente que busca colocar o irreal no palco, abandonando o apego excessivo à psicologia e ao realismo. Meyerhold é o encenador que leva mais longe essas propostas, lançando os fundamentos do que chama de «teatro estilizado». Vsevolod Emilievich Meyerhold (1874-1940) - Nascido na Rússia, trabalha inicialmente como actor e começa como director teatral em 1905, indicado por Stanislavski. Dirige os teatros da Revolução e Meyerhold, encenando várias peças de Maiakovski. Utiliza o cinema como recurso teatral. Em algumas de suas montagens, o espectador pode ir ao palco, os actores circulam na plateia. Para Meyerhold, o actor deve utilizar o seu físico na interpretação, não ficando escravo do texto. Preso pela polícia estalinista após uma conferência teatral, em 1939, morre num campo de trabalhos forçados, provavelmente executado. Surrealismo - Na França dos anos 20 e 30, os surrealistas contestam os valores estabelecidos. Apontam como seu precursor Alfred Jarry que, no fim do século XIX, criou as farsas ligadas ao personagem absurdo do Rei Ubu. Antonin Artaud é o principal teórico desse movimento. Antonin Artaud (1896-194 - Actor, poeta e director teatral nascido em Marselha, França, Artaud formula o conceito de «teatro da crueldade» como aquele que procura libertar as forças inconscientes da plateia. O seu livro «O teatro e seu duplo» exerceu enorme influência até aos dias actuais. Passou os últimos dez anos da sua vida internado em diversos hospitais psiquiátricos e morreu em Paris. Teatro Épico - Tomando como ponto de partida o trabalho de Piscator, que lutava por um teatro educativo e de propaganda, o alemão Bertolt Brecht propõe um teatro politizado, com o objectivo de modificar a sociedade. Autores épicos - Os principais seguidores de Brecht são os suíços Friedrich Dürrenmatt “A visita da velha senhora” e Max Frisch “Andorra”, e os alemães Peter Weiss (ex.:“Marat/Sade”) e Rolf Hochhuth (ex.:“O vigário”).
Na Itália, Luigi Pirandello («Seis personagens à procura de um autor») antecipa a angústia existencial de Jean-Paul Sartre («Entre quatro paredes») e Albert Camus («Calígula»). Bertolt Brecht (1898-1956) - Dramaturgo e poeta alemão. Serve na I Guerra Mundial como enfermeiro, interrompendo para isso os seus estudos de medicina. Começa a carreira teatral em Munique, mudando em seguida para Berlim. Durante a II Guerra exila-se na Europa e nos EUA. Acusado de actividade antiamericana durante o macarthismo, volta à Alemanha e funda, em Berlim Oriental, o teatro Berliner Ensemble. Em «O círculo de giz caucasiano», «Galileu Galilei» ou «As espingardas da senhora Carrar», substitui o realismo psicológico por textos didácticos, comprometidos com uma ideologia de esquerda. Afirmando que, em vez de hipnotizar o espectador, o teatro deve despertá-lo para uma reflexão crítica, utiliza processos de «distanciamento», que rompem a ilusão, lembrando ao público que aquilo é apenas teatro e não a vida real. Teatro Americano - Na década de 20 adquire pela primeira vez características próprias, marcado pela reflexão social e psicológica, e começa a ser reconhecido em todo o mundo. O seu criador é Eugene O'Neill, influenciado por Pirandello. Autores americanos - Além de Eugene O'Neill, destacam-se Tennessee Williams, Clifford Oddets (“A vida impressa em dólar” ) , que retrata a Depressão, Thornton Wilder ( “Nossa cidade”) e Arthur Miller com textos de crítica social; e Edward Albee que, em “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, fala do relacionamento íntimo entre os indivíduos. Teatro do Absurdo - A destruição de valores e crenças, após a II Guerra Mundial, produz um teatro anti-realista, que encara a linguagem como obstáculo entre os homens, condenados à solidão. Autores do teatro do absurdo - Destacam-se o irlandês Samuel Beckett; o romeno naturalizado francês, Eugène Ionesco; o inglês, Harold Pinter. O francês Jean Genet (“O balcão”) escolhe assuntos "malditos", como a homossexualidade. “Tango”, do polaco Slawomir Mrózek, e “Cemitério de automóveis” e “O arquitecto e o imperador da Assíria”, do espanhol Fernando Arrabal, também marcam o período. Tendências Actuais Em anos mais recentes, alguns dramaturgos ainda se destacam, mas o eixo criador desloca-se para os grupos teatrais. As experiências dos grupos fundados nas décadas de 70 a 90 têm em comum a eliminação da divisão tradicional entre o palco e a plateia; além da substituição do texto de um autor único por uma criação colectiva e da participação do espectador na elaboração do espectáculo. A figura do director torna-se mais decisiva do que a do autor. O polaco Jerzy Grotowski é um dos maiores nomes do teatro experimental. Jerzy Grotowski (1933-1999) - Nasceu em Rzeszów, Polónia. O seu trabalho como director, professor e téorico de teatro tem grande impacto no teatro experimental a partir da década de 60. De 1965 a 1984 dirige o teatro-laboratório de Wróclaw, onde propõe a criação de um «teatro pobre», sem acessórios, baseado apenas na relação actor/espectador. Em 1982 passa a morar nos EUA e depois em Itália, onde vive e trabalha no Centro de Pesquisa e Experimentação Teatral de Pontedera. Morre em 1999. Grupos teatrais - Destacam-se o Living Theatre, de Julian Beck e Judith Malina; o Open Theatre, de Joseph Chaikin; o Teatro Campesino, de Luís Miguel Valdez; o Bread and Puppet, de Peter Schumann; o Odin Teatret, de Eugenio Barba; o Centro Internacional de Pesquisa Teatral, de Peter Brook; o Théâtre du Soleil, de Ariane Mnouchkine; o Grand Magic Circus, de Jérôme Savary; o Squat, de Budapeste; o Mabou Mines e o Performance Group, dos EUA; e as companhias dos americanos Bob Wilson, Richard Foreman, Richard Schechner e Meredith Monk; dos italianos Carmelo Bene, Giuliano Vassilicò e Memè Perlini; do falecido polaco Tadeusz Kantor e a do britânico Stuart Sherman. Peter Brook (1925- ) - Nasce em Londres e estuda em Westminster, Greshams e Oxford. Como diretor teatral, nos anos 60, inova em montagens de Shakespeare como “Rei Lear” e em “Marat/Sade”. Em 1970 transfere-se para Paris fundando o Centro Internacional de Pesquisa Teatral. Centra o seu trabalho na valorização do actor. Trabalha com pessoas de diversas nacionalidades para que as diferenças culturais e físicas enriqueçam o resultado final. Uma de suas montagens mais conhecidas, “Mahabharata”, é adaptada de um clássico indiano. Autores actuais - Os autores mais representativos do final do século XX são os alemães Peter Handke («Viagem pelo lago Constança»), Rainer Werner Fassbinder («Lola»), também director de cinema, Heiner Müller («Hamlet-Machine») e Botho Strauss («Grande e Pequeno»); o americano Sam Sheppard («Loucos de Amor»), o italiano Dario Fo («Morte acidental de um anarquista») ou o chileno Ariel Dorfman («A morte e a donzela»). Teatralismo - Na década de 90, musicais como «Les misérables», dirigido por Trevor Nunn e John Caird ou «Miss Saigon», dirigido por Nicholas Hytner, ilustram a tendência para o chamado «teatralismo», que privilegia a exploração dos recursos específicos da linguagem de palco - encenações elaboradas, estilizadas, ricas em efeitos especiais e ilusões teatrais. Retirado de:http://www.anta.pt/html/modules.php?op=modload&name=Forums&file=viewtopic&topic=157&forum=15
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