No livro conclui-se, por exemplo, que 17% dos assalariados estão activamente desligados do seu trabalho diário. Ou seja, adoptaram um atitude que roça a sabotagem. E apenas 3% dos assalariados é que se empenham seriamente – e ingenuamente – na actividade laboral para que foram contratados.
E com sarcasmo, que está presente ao longo de todo o livro, a autora remata: «As pessoas trabalham pelo dinheiro. Se trabalhar fosse bom, trabalharíamos de graça».
Trata-se, sem dúvida, de um livro imprescindível para perceber as novas relações no ambiente de trabalho onde a cretinice se casa com a hipocrisia geral, e como a gestão moderna não passa de um descomunal embuste para a qualidade de vida de um trabalhador que preze a sua existência.
Corinne Maier mostra como as empresas não se preocupam nem um pouco mais ou menos com os seus funcionários – a não ser na hora de sugá-los ao máximo. Por isso, o melhor que os funcionários têm a fazer é também não se esforçarem para a empresa em que trabalham. Postura que, segundo ela, já está a ser adoptada por um número crescente de trabalhadores activos e conscientes.
Na França (onde ela vive), por exemplo, apenas 3% dos empregados se mostram “motivados” no seu trabalho. Os demais precisam de constantes programas de motivação para darem força ao seu ânimo.
Os conselhos nada convencionais da autora recomendam que as pessoas não se esforcem. Caso mostrem empenho e esforço o mais provável é que não chegarão a lugar nenhum. Enganam-se aqueles que pensam que serão recompensados pela sua dedicação.
Economista, doutorada também em psicologia, a autora narra em "Bonjour paresse", num tom acerbo, os jogos de poder nas empresas, o vocabulário de "management" absconso, as incompetências dos colegas, a hipocrisia dos discursos. Neste panfleto anarquista, é recomendado fazer o menos possível porque o "cretino ao seu lado vai um dia destes substitui-lo".
Um excerto do livro:
" Você é um escravo dos tempos modernos. É inútil tentar mudar o sistema - isso só o torna mais forte (...) O trabalho que faz é inútil e você será um dia substituído um dia pelo cretino que trabalha na mesa ao lado - por isso trabalhe o menos possível e cultive uma rede de compadrios que o tornará intocável na próxima leva de despedimentos (...) Você não é julgado pelo seu mérito, mas pela sua aparência (...) Fale com linguagem tecnocrática: os outros vão pensar que você é inteligente (...) Não aceite posto de responsabilidade: vai ter de trabalhar mais, sem ganhar muito mais (...) Seja simpático com as pessoas com contratos a prazo - são as únicas que trabalham mesmo (...) Diga a si mesmo que este sistema absurdo não pode durar para sempre. Vai desabar como desabou o materialismo dialéctico do sistema comunista. Toda a questão é de saber quando".
A solução, para Corinne, seria escolher profissões “menos integradas ao jogo capitalista”. Foi o que ela fez: “Imitem-me, colegas assalariados, neo-escravos, pobres-diabos da terceirização”, conclama.
Enquanto essa mudança não acontecer, aconselha, as pessoas devem ficar no seu emprego – mas discretamente sem trabalhar! Esse comportamento, diz Corinne, será o mais eficaz para “minar o sistema, de dentro, sem dar na vista”.
Recorde-se que, quando o livro apareceu em França, a empresa onde a autora trabalhava como economista – a poderosa EDF, a principal companhia de electricidade francesa - não apreciou a obra e ameaçou-a de despedimento, facto que serviu para tornar ainda mais conhecido o livro e a ousada proposta de trabalhar cada vez menos dentro das empresas. Convocada para uma reunião com a direcção da empresa, a autora do «Bom dia, preguiça, portadora de uma licenciatura em economia e outra em psicologia, respondeu laconicamente, que não podia aparecer pois se encontrava de férias.
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