Bab Sebta: excelente documentário de Frederico Lobo e Pedro Pinho passa hoje na RTP-2 às 23h45. A não perder
“Nós não atravessamos fronteiras, as fronteiras é que se atravessam entre nós” Graffiti em Ceuta
“Bab Sebta” é um documentário que reúne testemunhos contados na primeira pessoa, dos milhares de africanos que rumam a Norte todos anos, caminhando quilómetros, atravessando desertos, até finalmente chegarem à fronteira com Ceuta - a “Península Fortaleza” e porta para a Europa. Este trabalho realizado por Pedro Pinho, Frederico Lobo e Luísa Homem, e apoiado desde o início pela INDE - Intercooperação e Desenvolvimento, já conta com duas exibições: em Maio no Porto, na Rede Libertaria, e em Lisboa, nos Dias do Desenvolvimento.
O escalar da violência no Bosque de Belniuz (às portas de Ceuta) levou Pedro Pinho e Frederico Lobo (realizadores de cinema) a Marrocos, em 2005. A viagem resultou na descoberta de uma realidade, através dos desabafos partilhados, e desta partilha emergiu a vontade de regressar.
O regresso deu origem a “Bab Sebta”, que escuta os relatos de quem vive na ténue fronteira entre o sonho e a realidade, e conta histórias sobre o seu quotidiano ilustrado por ilusões e desilusões, certezas e expectativas, amores e desamores, de ontem, de hoje, de amanhã.
A persistência de muitos, após detenções e deportações sucessivas junto às fronteiras, pela polícia Marroquina ou Espanhola, reflecte uma força de vontade inabalável. Uma força que procura sobrepor-se, à sede, à fome, aos desertos, às máfias, aos muros de arame farpado, às precárias e muitas vezes trágicas travessias marítimas.
Este projecto, co-produzido pela Gil e Miller e a Paté Filmes, venceu o Concurso de Pesquisa e Desenvolvimento do ICAM (Instituto de Cinema Audovisual e Multimedia) em 2006, bem como foi alvo do co-financiamento da Fundação Gulbenkian e da INDE – Intercooperação e Desenvolvimento, merecendo mais tarde a confiança da RTP2, que garantiu a sua exibição.
Este documentário constitui um instrumento concreto no âmbito do programa da INDE, Migrações e Desenvolvimento: a dupla oportunidade Norte-Sul, na medida em que traz à discussão pública o potencial do Migrante nos processos de Desenvolvimento, tanto no seu país de origem como no país que o acolhe, afinal como uma das frases mais marcantes deste documentário denuncia, “Nós não atravessamos fronteiras, as fronteiras atravessam-se entre nós.”
O documentário "Bab Sebta", realizado Pedro Pinho e Frederico Lobo foi distinguido com o "Marseille Esperance Prize", da 19ª edição do FIDMarseille - Festival Internacional de
Documentário de Marselha.O FIDMarseille decorreu entre os dias 2 e 7 de Julho e contou com a presença de quatro obras nacionais na sua selecção
http://www.babsebta.org/en.html
Partindo de todas as partes de África corre uma multidão de homens invisíveis preparados para atravessar continentes inteiros perseguindo uma ideia eternamente negada àqueles que vivem na periferia – a de uma vida melhor. Enfrentam desertos, máfias, sede e fome até colidir contra um muro de arame farpado ou atravessar uma trágica e precária travessia marítima – os obstáculos que os separam do seu objectivo quase mitológico – a Europa.
O nosso filme parte em contracorrente a este fluxo, dirigindo-se de Norte para Sul em busca dos migrantes que atravessam o deserto – heróis nómadas dos tempos que correm, em luta contra uma abstracção: a ideia de fronteira.
O móbil principal para fazermos este filme foi a abundância ensurdecedora de imagens falhadas sobre este tema. A quase totalidade dos trabalhos que conhecemos perde-se na ilustração factual, no tratamento das pessoas que quer filmar dentro de uma lógica humanitária e caridosa, dedica-se a reproduzir e perpetuar a sua condição de miseráveis, de desfavorecidos, de fugitivos, de clandestinos, de vítimas. Eclipsando a sua existência enquanto aventureiros, viajantes, curiosos, vendedores de fruta fartos de o ser, barbeiros, pais, filhos, amantes, sonhadores ambiciosos, desiludidos, desertores.
O desafio da rodagem foi evitar a busca jornalística das histórias dos outros, mas facilitar os meios e o tempo para que esses outros criem, desenvolvam, revolvam as histórias adormecidas que transportam em si. Histórias contadas na primeira pessoa sobre banalidades do dia-a-dia, sobre o local de partida, a família, o que aconteceu ontem, aventuras, amores perdidos, desilusões, expectativas.
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