Com base nas noções de rede e fluxos e na classificação da nova hierarquia da rede de cidades globais no Brasil e no mundo, vamos focar a cidade de São Paulo e sua participação como cidade global na classificação da Globalization and World Cities Research Network (GaWC), da Universidade de Loughborough, do Reino Unido, e a origem dessas cidades diante das mudanças profundas na composição e distribuição dos espaços produtivos ocorridas no período técnico-científico-informacional.
Em 2005, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) da capital paulista foi de 102,4 bilhões de dólares (IBGE), com um orçamento anual de 15 bilhões de reais e arrecadação de mais de 90 bilhões de reais. Esses dados permitem algumas comparações interessantes. Por exemplo, de acordo com pesquisa realizada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, a capital paulista gera mais riqueza do que 22 estados norte-americanos (como, apenas para ilustrar, o Havaí e New Hampshire). Quando comparada a outros Estados brasileiros, a participação da cidade de São Paulo no PIB nacional em 2005 foi de 12,3% (37% superior à contribuição de todo o Estado de Minas Gerais), ficando atrás apenas do estado paulista. Caso a imaginássemos como um país na América Latina, a cidade de São Paulo seria a quinta maior economia (empatada com o Chile e cinco vezes superior ao Uruguai) e, em âmbito mundial, ocuparia a posição de 47a maior economia, à frente de países como o Egito e o Kuwait. A cidade de São Paulo está posicionada na 14a colocação do ranking de cidades globais criado pela Globalization and World Cities Research Network (GaWC), da Universidade de Loughborough, do Reino Unido.
O tema das cidades globais foi trabalhado na 8ª. série, no 4º. bimestre. É interessante rever o conteúdo.
Em uma grande cidade, tanto na escala local como na global, seus habitantes se conectam com redes sociais de diversas escalas geográficas.
As classificações das cidades globais levam em conta os aportes ideológicos e devem ser compreendidas como uma forma de enxergar o mundo, e portanto, vistas de acordo com os interesses de quem as propôs e considerando a escala que se quer alcançar.
São quatro as principais atividades sobre as quais cada cidade global mostra sua força: os bancos e as bolsas de valores; as empresas de publicidade/marketing; as firmas de consultoria e seguros e; os centros de pesquisa. De acordo com a classificação dos geógrafos da Globalization and World Cities Research Network (GaWC), podemos atribuir, para cada uma dessas atividades, uma nota de 1 a 3, dependendo da importância de cada setor de atividade para o contexto do sistema capitalista mundial:
- Será atribuída nota 3 às cidades globais em que o setor bancário tiver alcance mundial;
- Será creditada nota 2 às cidades em que algum desses serviços não tiver grande alcance mundial e for restrito a apenas algumas áreas do globo;
- Será estabelecida nota 1 às cidades em que os setores de serviços tenham alcance apenas regional.
Caso uma cidade global possua todos os quatro tipos de setores citados acima muito desenvolvidos, somará a nota máxima de 12 pontos. Ao contrário, às grandes cidades que possuírem apenas empresas dos quatro setores com alcance regional ou local será atribuída a nota 1 para cada uma delas, e chegaremos à nota 4, estando, portanto, na base da pirâmide das cidades globais. Todas as outras cidades que não possuem empresas desses setores em seu meio urbano, ou que têm apenas um ou outro dos setores desenvolvidos, não poderão ser consideradas cidades globais, estando "fora" da rede de fluxos que hoje comanda as atividades produtivas no mundo todo.
As cidades globais podem ser divididas em três grupos principais, de acordo com as notas recebidas: Alpha, Beta e Gama. Veja a tabela completa na página 27 do caderno do aluno.
Para entender o funcionamento atual da nova rede mundial de cidades globais e a hierarquia dessas cidades, vejam a tabela ?Classificação das cidades globais? abaixo e o mapa ?Mundo: cidades globais?, na página 28 do caderno do aluno.
No primeiro grupo (as cidades do tipo Alpha), não existe nenhuma delas situada nos países antes chamados de "Terceiro Mundo". Todas elas (com excecão de Cingapura e Hong Kong) estão nos países da chamada tríade do capitalismo mundial (Estados Unidos, alguns países da Europa e Japão). O que isso significa? Entre outros aspectos, significa que, se porventura um país do "Terceiro Mundo" precisar de algum serviço, cuja prestação somente é realizada em uma dessas cidades globais (como uma consultoria em finanças ou um empréstimo do Fundo Monetário Internacional, Banco Interamericano de Desenvolvimento etc.), será necessário pagar grandes quantias em dinheiro, drenando para o centro do sistema capitalista uma quantidade maior de recursos, o que aumentará ainda mais o fosso (espaço, vala) entre os países.
Roterdã, na Holanda, é uma cidade onde está localizado o maior e mais bem equipado porto marítimo do mundo. Serve de entrada para boa parte do petróleo consumido por todos os países europeus (além de um conjunto muito diversificado de tipos de commodities). Por que, então, Roterdã não consta na lista de cidades globais? Justamente pelo fato de comandar um tipo de fluxo ligado ao capitalismo comercial "tradicional", e não à nova economia de serviços do capitalismo globalizado atual. Os fluxos materiais (assim como a produção e a comercialização de mercadorias industriais) perderam sua importância relativa, atualmente, para os fluxos imateriais, das finanças, das informações etc.
Commodities são produtos com origem no setor primário (agricultura ou minerais), que são comercializados nas bolsas de valores do mundo todo. Exemplos: café, trigo, minério de ferro, petróleo etc.
Uma "cidade global" não leva em conta o número de habitantes, mas sim a sua capacidade de influenciar os acontecimentos mundiais, agregando serviços e concentrando grandes fluxos de transporte e comunicações. Diferente de uma megacidade, que valoriza o aspecto quantitativo, não importando em que tipo de país ou região a cidade se localiza, referindo-se às maiores cidades do mundo, considerando-se o patamar mínimo de 10 milhões de habitantes.
A cada período histórico, algumas regiões do mundo acabam por concentrar equipamentos importantes para o domínio de outras regiões e, conseqüentemente, de outros povos. Foi assim que Portugal, tendo desenvolvido as melhores técnicas de navegação, ainda no final do século XV, fez de Lisboa a principal cidade no período das Grandes Navegações. Londres, no século XIX, pode ser considerada outro exemplo de cidade que passou a "capitanear" ou liderar o desenvolvimento do mundo a seu favor. Graças às poderosas indústrias, às suas muitas ferrovias e a uma poderosa marinha mercante, a Inglaterra, e, por conseqüência, Londres, procurou colocar boa parte das matérias-primas do planeta a serviço de suas indústrias. A cada período, portanto, muda o centro do controle das regiões do planeta ou, melhor dizendo, altera-se a estrutura geopolítica do mundo.