Ciências Humanas e Sociais
A super dívida dos Estados Unidos
Os Estados Unidos tornaram-se no maior devedor de sempre na história. As importações americanas ultrapassaram no ano passado as exportações com um montante record de 666 mil milhões de dólares, alargando a dívida externa americana para mais de 3.000 biliões de dólares. Pela primeira vez na história o país mais poderoso é também o maior devedor mundial. E os números de 2005 só mostram que a situação vai piorar.
Este rápido crescimento da dívida americana provoca um claro mal estar em todo o mundo. Pelo simples motivo que ela poderá levar a uma súbita e vertiginosa queda do dólar, ao disparar das taxas de juro, e à desestabilização dos mercados financeiros, originando mesmo um grave recessão mundial. Mas o que faz a Administração Bush? Nada. Quando se lhes pergunta porque nada fazem, a resposta invariável é que não há motivo para tal com base em 3 argumentos.
Em 1º lugar porque os défices externos devem ser interpretados como um sinal de força e não de fraqueza da economia americana. Para John Taylor, número dois do tesouro, o Ministério das Finanças americano, «os estrangeiros querem investir nos EUA. É isso que revelam os nossos défices». Isso é verdade. Durante o boom da bolsa dos anos Clinton, os investidores procuravam os Estados Unidos em busca do lucro fácil. Mas agora já não é o caso. A maior parte dos défices americanos é financiada pelos bancos centrais, em especial, os asiáticos.
Seguindo este raciocínio, as autoridades financeiras apresentam um segundo argumento. O Japão, a China e os países do Sudeste asiático financiam os nossos défices porque, para apoiar o crescimento nas suas economias, eles exportam para o mercado mais rico do mundo, o norte-americano. Não fazem pois qualquer favor. Agem simplesmente em função dos seus interesses. As estatísticas sugerem, porém, que há um limite para tanta boa vontade dos asiáticos. É que os dólares acumulam-se em grande velocidade nos bancos centrais desses países – cerca de 850 mil milhões de dólares no Japão, mais de 600 mil milhões na China, 250 mil milhões em Taiwan, 200 mil milhões na Coreia do Sul…Ou seja, os países asiáticos estão desejosos de manter as suas exportações para os Estados Unidos, mas o seu apetite por dólares não é infinito.
Apresenta-se então um 3º argumento. Os bancos centrais asiáticos financiam os défices norte-americanos, não porque o querem, mas porque o devem fazer. É que se não quisessem mais dólares, a moeda americana sofreria uma fortíssima depreciação que se traduziria em perdas maciças para as suas reservas e provocaria uma baixa de competitividade das suas exportações. Será que estão prontos a causar tanto dano a si próprios? A administração Bush confia que não.
Na verdade, os países asiáticos no seu conjunto não tem grande interesse no desencadear de um tal processo. Mas de forma pontual e individualizada, cada qual pode estar inclinado a vender os seus dólares o mais rapidamente possível empurrando as perdas para os outros…Até quando poderemos pois esperar a complacência deles? É que uma descida d dólar pode dar-se a qualquer momento. E Bush continua a nada fazer.
(tradução de um artigo de Benjamin J. Cohen, professor de economia política internacional na Universidade da Califórnia, Santa Barbara, e publicado na Revista «Alternatives Economiques» nº 236, Avril 2005)
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