Este tema enfatiza as condições precárias de moradia (favelas, cortiços e loteamentos irregulares) e as transformações expressivas na organização do espaço urbano ocasionadas pela proliferação dos condomínios fechados e de moradias de alto luxo em determinadas áreas habitadas por pessoas com alto poder aquisitivo, principalmente nas cidades médias e grandes brasileiras.
A definição e a medição da pobreza e da exclusão social são difíceis de quantificar. Isso porque elas são situações que apresentam múltiplas dimensões e variações de acordo com a metodologia dos diferentes estudos, como também segundo as condições da economia, de fatores culturais e das diversidades regionais. Na prática, a pobreza é associada à insuficiência de renda. Ou seja, quando a soma dos rendimentos de um indivíduo ou família não permite a satisfação de suas necessidades básicas (alimentação, transporte, moradia, saúde e educação), costuma-se utilizar o termo pobre.
Quanto à exclusão social, além da renda, emprega-se a expressão de maneira mais ampla ou multidimensional, pois também abrange restrições à mobilidade social (intra e intergerações) resultantes de condições como gênero, tipo de ocupação, condição socioeconômica, além de fatores culturais, institucionais e políticos. De maneira complementar, vale chamar a atenção para o fato de que a exclusão social também pode ser vista sob outro enfoque, como um conceito associado à ideia de "vulnerabilidade social", referindo-se, nesse caso, à marginalização de determinados segmentos sociais (em geral, pobres com baixa escolaridade, negros e mulheres) em relação aos benefícios gerados pelo desenvolvimento. Em qualquer dos casos, o fato é que a exclusão social está intrinsecamente associada à noção de mobilidade social.
O ?Diagrama de construção do índice de exclusão social?, sintetiza parte da metodologia de estudo que possibilitou a elaboração dos dois mapas ?Brasil: índice de pobreza? e ?Brasil: índice de exclusão social?, como também de outros presentes na publicação do Atlas da exclusão social no Brasil (2003).
Os indicadores sociais são as estatísticas da realidade social do país, em saúde e saneamento básico, educação, trabalho e rendimento, domicílios, famílias, grupos populacionais e trabalho de crianças e adolescentes, entre outros aspectos. São utilizados para orientar políticas públicas e avaliar sua eficácia no tempo e o principal órgão de apuração de indicadores sociais no país é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), embora outros também sejam obtidos pelos ministérios e instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais.
A charge de Angeli ilustra uma situação diária: a situação de favelas, cortiços e loteamentos irregulares em contraste com o crescimento dos condomínios "fechados" ou exclusivos nas cidades médias e grandes brasileiras e o isolamento das populações de alta renda. Moradias irregulares, o papel dos movimentos sociais e de associações de moradores na luta por maiores investimentos públicos em infraestrutura urbana, condomínios fechados, tanto verticais como horizontais, a questão da expansão/retração do chamado "direito à cidade" possibilitam discutir se esse modelo colabora ou não para a construção de uma sociabilidade urbana mais democrática.
Teresa Pires do Rio Caldeira, autora de vários trabalhos, um dos mais interessantes é o ?Cidades de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo?, apresenta uma definição interessante a respeito dos condomínios ?fechados?, designando-os como ?enclaves fortificados?, ou seja, espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo, lazer ou trabalho. Nas últimas décadas, a proliferação dos ?enclaves fortificados? vem criando um novo modelo de segregação espacial e transformando a qualidade da vida pública não somente no Brasil como também em muitas cidades ao redor do mundo. Esses locais reproduzem uma cultura segregacionista e excludente das elites econômicas em relação a outros grupos sociais menos abastados (principalmente motivada pelos altos índices de violência urbana). As consequências desse processo para a cidade e para o território urbano é a fragmentação, reproduzindo no plano espacial a desigualdade social existente. Ainda de acordo com Teresa Pires do Rio Caldeira, no início do século XX, na cidade de São Paulo, os diferentes grupos sociais viviam bem próximos uns dos outros, embora em arranjos residenciais radicalmente distintos: os ricos, em casas espaçosas, os pobres, amontoados nos cortiços.
No período que se estende da década de 1940 à de 1980, a cidade passou a ser organizada pela divisão entre centro e periferia: os ricos habitavam os bairros centrais (dotados com infraestrutura necessária), e os pobres habitavam as áreas periféricas (extremamente carentes de infraestrutura e equipamentos urbanos coletivos). Nos últimos anos, o padrão de organização espacial foi novamente modificado. Em um processo que ganhou corpo na década de 1980 e se intensificou na de 1990, as distâncias físicas entre ricos e pobres diminuíram, apesar de terem se tornado mais visíveis e complexos os mecanismos de separação entre eles. Hoje, existem dificuldades para continuarmos adotando o modelo centro/periferia, pois não é incomum verificarmos casos em que as classes mais abastadas passaram a morar nas periferias das cidades, em condomínios horizontais dotados de áreas verdes e fortes esquemas de segurança interna, como meio de se afastar do centro da cidade e de todos os "inconvenientes" que a vida em sociedade traz para o cotidiano. Esses aspectos contraditórios acarretam na questão do direito à cidade.