A Filosofia contra o Cristianismo
Ciências Humanas e Sociais

A Filosofia contra o Cristianismo




Na Antiguidade o filósofo vivia como filósofo. A prova da sua essência era a sua existência. Graças as seus hábitos alimentares, à vasta guedelha ou ao cabelo rapado, ao bordão, à tigela, ao manto de linho branco ou aos andrajos, qualquer sabia que estava perante um filósofo estóico ou cínico. Nesse tempo, filósofo designava o indivíduo que punha em prática uma teoria, teoria essa graças à qual ele visava atingir a sabedoria.

O cristianismo oficial irá modificar a definição de filósofo – e ainda hoje vivemos parcialmente sob o regime cristão. O cristianismo chama filósofo à personagem que põe a sua inteligência, saber, retórica e trabalho ao serviço do poder vigente, forgando para uso dos poderosos um arsenal de conceitos que permita a legitimação política da sua acção. Durante o regime cristão, a filosofia funcionou como disciplina incestuosa e segundo uma lógica de gabinetes. Os filósofos esforçavam-se através de esforçadas dissertações sobre o sexo dos anjos, sobre o seu número bem como a sua disposição nos tronos no Paraíso, sobre a excelência da guerra santa e justa, sobre os fundamentos ontológicos da transubstanciação (=conversão da hóstia em Corpo de Cristo!!!!) e outras empolgantes questões de um corpo eclesiástico que continua a fascinar alguns filósofos contemporâneos amadores de sofismarias e retóricas absconsas.

Ainda hoje operam na filosofia estas duas tradições: uma linhagem existencial, e uma linhagem de gabinete.
Os primeiros pensam com vista a uma salvação individual, visando uma vida transfigurada, para além da vida mutilada da maior parte das pessoas. São filósofos 24 horas por dia e procuram fazer coincidir os seus pensamentos com as suas acções.
Os segundos reflectem para outrem, e não aplicam forçosamente as suas conclusões; possuem ainda grandes habilidades para dar lições ao mundo inteiro.


(Excertos de um texto de Michel Onfray publicado no Le Monde Diplomatique de Novembro de 2004)



loading...

- Estudos De Platão I - The Great Ideas Program
Segue a primeira leitura da República de Platão, seguindo orientação do Volume 10 dos Great Ideas Program. * * * The Great Ideas Program ? Volume 10 ? PhilosophyFirst Reading ? Plato, The Republic, Vol 7, pp. 369c-383a, 388a-391a Estrutura: 1. O Estado...

- Lançamento Do Livro E Palestra Sobre Prazer E Rebeldia No Quotidiano ( Na Livraria Letra Livre, Dia 11 Dedez. às 19h.)
Lançamento do Livro de João da Mata, "Prazer e Rebeldia - O materialismo hedonista de Michel Onfray" com Palestra: "Prazer e rebeldia no cotidiano" Dia 11 de dezembro de 2007 - a partir das 19hs Local: Livraria Letra Livre Calçada do Combo, 139...

- A ética Subversiva No Comportamento Do Quotidiano
Quem é subversivo? Quem o pode ser? Será que hoje ainda se pode ser? Sim, acho que sim, mas longe das imitações da subversão teatralizada que espectaculariza o gesto e integra-o na lógica dominante que encontra o lugar do subversivo dentro do mundo...

- Foucault: O Filósofo Que Escrevia Caixas Inteiras De Ferramentas
As ideias de Michel Foucault nunca repousam sobre a superfície das coisas. Elas são, para alguns, as proteínas da filosofia contemporânea. A lucidez das análises e a capacidade para operacionalizar e reinventar o seu pensamento, com o propósito...

- Os Filósofos Cínicos Foram Os Primeiros Dissidentes Libertários
Durante o Império de Alexandre, o Grande a cultura e a civilização da antiga Grécia propagaram-se um pouco por todo o lado. Após a sua morte o Império que construiu divide-se em fracções antagónicas e profundos conflitos políticos. Aparecem...



Ciências Humanas e Sociais








.